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ANSIEDADE PRÉ-COMPETITIVA NO CONTEXTO ESPORTIVO

  • Foto do escritor: GEPEEX
    GEPEEX
  • 14 de set. de 2020
  • 4 min de leitura

Por Vinicius da Cruz Sousa*

Certamente alguma vez você, leitor, já ouviu alguma pessoa relatar que está ansiosa, com um frio na barriga, com as mãos tremendo ou até mesmo com dificuldades para falar antes de um determinado evento, não é mesmo?



Esses exemplos são comuns e podem ocorrer para qualquer pessoa em diferentes contextos, por exemplo, no contexto esportivo, com os atletas diante de competições.

Existem fatores que levam o atleta a apresentar mudanças emocionais ao longo de suas competições e rotinas de treinamento, por exemplo, um resultado negativo inesperado ou um pequeno conflito de ideias sobre o seu treinamento (NASCIMENTO JUNIOR; MORAIS; VIEIRA, 2014; MACHADO et al., 2016. Tais mudanças quando somadas a determinados fatores, sejam externos ou internos, como a pressão dos familiares, treinadores e dificuldades com relacionamentos interpessoais, favorecem comportamentos ou reações emocionais mais acentuadas, como o medo de errar, a insegurança para agir e as dúvidas em prosseguir (PALUDO et al., 2017).

Os exemplos citados até aqui estão relacionados à ansiedade, que se refere a uma condição emocional com a presença de nervosismo, preocupação, apreensão por eventos futuros, tendo sua associação à ativação de características corporais (NASCIMENTO; BAHIANA; NUNES-JUNIOR, 2012). A ansiedade pode influenciar o desempenho de atletas em momentos antecedentes a competição, principalmente em instantes pré-competição, no qual os fatores e as reações são mais nítidas (BOCCHINI et al., 2008; ALVES et al., 2016). Quando a ansiedade ocorre como uma característica de personalidade é denominada como ansiedade-traço, e quando é caracterizada por estados emocionais que podem aparecer em momentos específicos é denominada como ansiedade-estado (GOLÇALVES; BELO, 2007; FERNANDES et al., 2014).

A Teoria Multidimensional da Ansiedade Competitiva desenvolvida por Martens et al. (1990) propõe a subdivisão da ansidade competitiva em três dimensões: ansiedade somática, ansiedade cognitiva e autoconfiança. A ansiedade somática é caracterizada pelas respostas fisiológicas percebidas ao longo de situações do ambiente que causam determinadas excitações corporais (ex: frio na barriga ao jogar uma final de campeonato). A ansiedade cognitiva é caracterizada pelos pensamentos negativos, sentimentos, dúvidas, indagações sobre o desempenho e situação no ambiente competitivo (ex: será que eu vou conseguir acertar o lance livre?). E a autoconfiança é determinada pelos pensamentos positivos sobre fatos, ações no ambiente competitivo ou em competições no qual o atleta pode participar (ex: eu vou, eu posso ganhar aquela final) (MARTENS et al., 1990).

Um estudo recente desenvolvido pelo GEPEEX, Freire et al. (2020) avaliou a intensidade da ansiedade pré-competitiva dos atletas diante das modalidades praticadas, sejam coletivas ou individuais. Tal estudo apontou maiores escores nas dimensões da ansiedade nos atletas de modalidade coletivas em comparação com os atletas das modalidades individuais. Silva et al. (2019) verificou a análise da ansiedade pré-competitiva de jovens nadadores brasileiros de alto rendimento, verificando que os atletas de natação possuem maiores níveis de autoconfiança em comparação com a ansiedade somática e cognitiva, em virtude de levar as provas como desafios a serem superados.

O trabalho dos treinadores e psicólogos são fundamentais para o controle dos níveis de ansiedade pré-competitiva, visto que é uma das principais variáveis no contexto esportivo que compromete o desempenho dos atletas (DA SILVA; BORFE, 2019). Pesquisas recentes (MACHADO et al., 2016; ARRUDA et al., 2017) também apontam que a ansiedade pode favorecer positivamente os atletas, tornando uma intensificação da sua motivação e autoconfiança em buscar, conquistar e vivenciar seus objetivos. Cabe aos responsáveis pela preparação esportiva desenvolver programas de intervenção para o controle da ansiedade dos atletas, e sempre ou quando possível sondar por meio de questionários, observação de comportamentos, entrevistas e análise de desempenho, os fatores que podem interferir na saúde e desempenho dos atletas.


REFERÊNCIAS

ALVES, Ana Clecia; OLIVEIRA, Laís Santos; BASTOS, Afranio Andrade. ANSIEDADE PRÉ–COMPETITIVA EM ATLETAS UNIVERSITÁRIOS. In: Congresso Internacional de Atividade Física, Nutrição e Saúde. 2016.

ARRUDA, Ademir FS et al. Salivary steroid response and competitive anxiety in elite basketball players: Effect of opponent level. Physiology & behavior, v. 177, p. 291-296, 2017.

BOCCHINI, Daniel et al. Análise dos tipos de ansiedade entre jogadores titulares e reservas de futsal. Conexões, v. 6, p. 522-532, 2008.

DA SILVA, João Luís Coletto; BORFE, Leticia. Atitudes e condutas emocionais dos técnicos de basquetebol: a percepção dos atletas de duas equipes do campeonato da FGB. Caderno de Educação Física e Esporte, v. 17, n. 2, p. 1-8, 2019.

DO NASCIMENTO JUNIOR, José Roberto Andrade; BALBIM, Guilherme Moraes; VIEIRA, Lenamar Fiorese. Estresse psicológico pré-competitivo e voleibol: um estudo em função do gênero e das posições de jogo. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 13, n. 2, 2014.

FERNANDES, Marcos Gimenes et al. Efeitos da experiência nas dimensões de intensidade, direção e frequência da ansiedade e autoconfiança competitiva: Um estudo em atletas de desportos individuais e coletivos. Motricidade, v. 10, n. 2, p. 81-89, 2014.

FREIRE, Gabriel Lucas Morais et al. Comparação da ansiedade pré-competitiva entre atletas de lutas e handebol. Research, Society and Development, v. 9, n. 9, p. e447997523-e447997523, 2020.

GONÇALVES, Marina Pereira; BELO, Raquel Pereira. Ansiedade-traço competitiva: diferenças quanto ao gênero, faixa etária, experiência em competições e modalidade esportiva em jovens atletas. Psico-USF, v. 12, n. 2, p. 301-307, 2007.

MACHADO, Thais do Amaral et al. Ansiedade estado pré-competitiva em atletas de voleibol infanto-juvenis. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 30, n. 4, p. 1061-1067, 2016.

MARTENS, Rainer; VEALEY, Robin S.; BURTON, Damon. Competitive anxiety in sport. Human kinetics, 1990.

JUNIOR, Paulo Cesar Nunes. A ansiedade em atletas de ginástica artística em períodos de pré-competição e competição. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício, v. 11, n. 2, p. 73-80, 2012.

PALUDO, Ana Carolina et al. Relação entre ansiedade competitiva, autoconfiança e desempenho esportivo: uma revisão ampla da literatura. Psicologia Argumento, v. 34, n. 85, 2017.

SILVA, Glauber Castelo Branco et al. Analysis of pre-competitive anxiety of Brazilian young swimmers. Acta Scientiarum. Health Sciences, v. 41, p. e45475-e45475, 2019.


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Vinícius da Cruz Sousa*. Mestrando em Educação Física pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e integrante do Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte e do Exercício (GEPEEX).

 
 
 

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