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O Burnout e Coping no esporte

  • Foto do escritor: GEPEEX
    GEPEEX
  • 18 de nov. de 2020
  • 5 min de leitura

Por Adson Alves da Silva *


Provavelmente você já deve ter conhecido um atleta ou ex-atleta que, de repente, perdeu o prazer pela prática esportiva na qual se sentia feliz em desenvolver, ou, até mesmo, conhece algum atleta que está em atividade, mas acha que o esporte não está acrescentando muito na sua vida e sente-se pouco realizado, e ainda, comenta em abandonar o grande sonho de ir para um grande centro esportivo. Se sua resposta foi, sim! Não pare a leitura agora, provavelmente estamos falando de alguém que foi acometido pela síndrome de Burnout. Agora você deve estar se perguntando, mas o que é o Burnout? Vamos entender.


O burnout é uma resposta ao estresse prolongado, no qual, em casos mais graves, um jovem atleta deixa de participar de uma atividade anteriormente agradável (SMITH, 2010; SMITH, 1986). O cenário esportivo define o burnout como uma síndrome psicossocial caracterizada pela exaustão física e emocional dos atletas, desvalorização esportiva e um baixo senso de realização para tarefa (GUSTAFSSON et al., 2018). A exaustão emocional e física diz respeito ao sentimento de fadiga, a sensação reduzida de realização está relacionada ao sentimento de inutilidade e insuficiência, e a desvalorização pelo esporte reflete a diminuição do interesse e uma atitude negativa em relação ao esporte. Os atletas podem apresentar vários níveis na percepção desses sintomas, no entanto, percepções elevadas em todos os três constituem a síndrome de burnout. No geral, o burnout esportivo é um estado de estresse extremo, desencadeado por respostas negativas as demandas estressoras do meio esportivo (GOODGER et al., 2007). Outros sintomas comuns a sidrome é a ausência de motivação, falta de prazer, altos níveis de estresse e insucesso no enfrentamento das dificuldades comuns ao esporte competitivo (GOODGER et al., 2007).

Entretanto, esses atletas dispõem de recursos individuais capazes de prevenir e controlar o estresse prolongado. Para Lazarus e Folkman (1984), o estresse é um processo psicológico, que envolve a intepretação de uma determinada situação como ameaçadora, e, a partir dessa interpretação, esforços comportamentais são direcionados afim de superar o estressor, esse processo é cientificamente conhecido como estratégias de coping. De acordo com o Modelo Transacional de Estresse de Folkman e Lazarus (1987), esses dois processos acontecem da seguinte forma: primeiro, ocorre uma avaliação cognitiva, que diz respeito à importância que o sujeito dá a um evento estressor específico, e segundo, o enfrentamento, que se refere a pensamentos ou atos que as pessoas utilizam para gerenciar demandas internas ou externas oriundas do evento estressor.

Esses esforços podem ser direcionados ao controle da emoção ou à resolução do problema. Quando utilizadas estratégias direcionadas a resolução do problema, o atleta reúne todos os seus recursos em busca de solucionar diretamente o problema, tomar conta da situação e eliminar os agentes causadores da dificuldade (LAZARUS e FOLKMAN, 1987). Entretanto, quando as estratégias de enfrentamento são direcionadas ao controle das emoções, o atleta busca controlar a emoção, analisar o problema sob outro ponto de vista e evitar pensar no causador do estresse (LAZARUS, 1993).

Além disso, essas duas funções se desenvolvem a partir de um estreito relacionamento, na medida em que o indivíduo utiliza as estratégias de coping para superar o problema, ele acaba contribuindo naturalmente para regular as emoções negativas causadas pelo estresse, do outro lado, quando o indivíduo utiliza as estratégias voltadas para o controle das emoções, automaticamente acaba auxiliando na resolução do problema (PIRES et al., 2019).

Do ponto de vista prático, os atletas dispõem da possibilidade do aperfeiçoamento das suas estratégias de coping, fato que pode contribuir tanto para continuidade no esporte, quanto para o sucesso. Além disso, o aperfeiçoamento desses recursos, chama atenção a respeito da necessidade do acompanhamento do psicólogo do esporte, profissional capacitado a orientar atletas e profissionais do esporte sobre o melhor direcionamento para o desenvolvimento de um ambiente saudável psicologicamente.


O GEPEEX tem realizado diversas pesquisas sobre estes temas. A seguir, são citados alguns artigos provenientes destas pesquisas, como por exemplo, o mais recente, a análise psicométrica da versão Brasileira do questionário de Burnout para atletas, já aceito para publicação:


SOUSA, V.C. ; FREIRE, G.L.M. ; MORAES, J.F.V.N. ; FORTES, L.S. ; NASCIMENTO-JÚNIOR, JOSÉ R. A. . Psychometric properties of the Brazilian version of the Athlete Burnout Questionnaire (ABQ) in a sample of young and adult athletes. Motriz, 2021.

BELEM, I.C. ; CARUZZO, N.M. ; NASCIMENTO JUNIOR, J.R.A. ; VIEIRA, J.L.L. ; VIEIRA, L.F. . Impacto das estratégias de coping na resiliência de atletas de vôlei de praia de alto rendimento. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano (Online), v. 16, p. 447, 2014.

BIM, R. ; NASCIMENTO JUNIOR, J.R.A. ; AMORIM, A.C. ; VIEIRA, J.L.L. ; VIEIRA, L.F. . Estratégias de coping e sintomas de burnout em atletas de futsal de alto rendimento. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 22, p. 69-75, 2014.

COSVOSKI, T. ; ANTUNES, M.D. ; OLIVEIRA, D.V. ; FREIRE, G.L.M. ; NASCIMENTO JÚNIOR, JOSÉ ROBERTO ANDRADE DO ; ACENCIO, F. R. . Síndrome de Burnout em atletas de futsal feminino universitárias: um estudo comparativo. PENSAR A PRÁTICA (ONLINE), v. 22, p. 1-9, 2019. NASCIMENTO JUNIOR, J.R.A.; RIGONI, P.A.G. ; NAKASHIMA, F.S. ; VIEIRA, L.F. . Análise do estresse psicológico pré-competitivo e estratégias de coping de jovens atletas de futebol de campo. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIA E MOVIMENTO, v. 18, p. 45-53, 2011;

OLIVEIRA, L.P. ; NASCIMENTO JUNIOR, J.R.A. ; VISSOCI, J.R.N. ; FERREIRA, L. ; VIEIRA, L.F. ; FREIRE, G.L.M. ; SILVA, A.A. ; MORAES, J.F.V.N. ; VIEIRA, J.L.L. . Perfectionism traits and coping strategies in soccer: a study on athletes’ training environment. JOURNAL OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT, v. 20, p. 658-665, 2020.


Referências


SMITH, R. E. Toward a cognitive-affective model of athletic burnout. Journal of sport psychology, v. 8, n. 1, p. 36-50, 1986.

SMITH, A. L.; GUSTAFSSON, H.; HASSMÉN, P. Peer motivational climate and burnout perceptions of adolescent athletes. Psychology of Sport and Exercise, v. 11, n. 6, p. 453–460, 2010.

GUSTAFSSON, H. et al. Performance based self-esteem and athlete-identity in athlete burnout: A person-centered approach. Psychology of Sport and Exercise, v. 38, p. 56–60, 2018.

GOODGER, K. et al. Burnout in Sport : A Systematic Review. Sport Psychologist, p. 127–151, 2007.

LAZARUS, R. S.; FOLKMAN, S. Stress, appraisal. and coping. New York, NY: Springer Publishing Company, 1984.

LAZARUS, R. S.; FOLKMAN, S. Transactional theory and research on emotions and coping. European Journal Personality, v.1, p. 141-169, 1987.

LAZARUS, R. From Psychological Stress to the Emotions: A History of Changing Outlooks. Annual Review of Psychology, 44, 1-21, 1993.

PIRES, Daniel Alvarez et al. Dimensões de Burnout, Estratégias de Coping e Tempo de Prática como Atleta Federado em Jogadores Profissionais de Futebol. Cuadernos de Psicología del Deporte, v. 19, n. 2, p. 175-185, 2019.


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*Adson Alves da Silva é Mestre em Educação Física formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco e integrante do Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte e do Exercício (GEPEEX).

 
 
 

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