O ESTRESSE NO CONTEXTO ESPORTIVO
- GEPEEX
- 2 de dez. de 2020
- 5 min de leitura
Por Nathan Costa*
O estresse está presente em diversos momentos do dia a dia. Em casa, no trabalho ou na escola, a prática esportiva é um comum recurso para diminuir os efeitos do estresse diário. Observando que as mais variadas práticas esportivas atuam como principal agente regulador do estresse, estudos atribuíram a atividade física mais esse efeito benéfico para saúde.
No ambiente competitivo, a prática esportiva pode causar efeitos negativos a saúde mental, física e social. Seja pelos treinamentos complexos e muito intensos (overreaching e overtraining), nos relacionamentos com treinador, colegas de equipe e familiares e pela insegurança quanto aos objetivos estabelecidos (COSTA; SAMULSKI, 2005).

Mas você deve estar se perguntando quais os reais impactos do estresse nesses atletas de alto rendimento? Afinal o ambiente das competições tem muitas pressões e expectativas.
Pois bem, o estresse presente no cotidiano de atletas pode ocasionar um decréscimo no desempenho e em casos mais graves o abandono das competições. Algumas outras consequências ao acumulo do estresse no esporte:
O overreaching caracterizado pelo início do desconforto do atleta com treinos intensos e com pouco tempo de recuperação, pode evoluir para um overtraining que apresenta descontentamento e fácil irritabilidade com as atividades propostas. Em situações mais intensas o atleta pode interromper a prática esportiva por tempo indeterminado.
E o estresse crônico pode levar o desencadeamento da síndrome de Burnout, estará qual está presente no cotidiano de diferentes profissionais em diversas áreas. No esporte pode ser desencadeada por diferentes fatores (físico, social e de metas estabelecidas), e representam uma associação com dos treinamentos e competições desgastantes com os sentimentos de ansiedade e medo aflorados (PIRES et al., 2016).
A psicologia do esporte desenvolveu diferentes instrumentos para conseguir compreender e mensurar o estresse em diversos momentos do ambiente competitivo, alguns deles são:
Para analisar a percepção dos atletas em relação ao estresse, estudos foram desenvolvidos para compreender e alinhar estratégias de prevenção aos efeitos do estresse. Instrumentos como o questionário de estresse e recuperação para e atletas, o RESTq-Sport, que utiliza de 19 dimensões como: estresse geral, emocional e social, a fadiga, qualidade do sono, aceitação pessoal dentre outras para fornecer uma alternativa consistente para o entendimento do estresse no contexto esportivo (COSTA; SAMULSKI, 2005).
Fisiologicamente outra forma de analisar o estresse é com o entendimento das respostas hormonais do corpo. Quando o estresse é físico ou de situações de ênfase do corpo em respostas rápidas o cortisol e a adrenalina (ambos liberados em grande quantidade pela glândula adrenal) causam no corpo o aumento dos batimentos cardíacos, aumento da sudorese e dos níveis de açúcar, preparando o corpo para ação rápida (KRONENBERG, 2010; MOLINA, 2014).
O GEPEEX e outros pesquisadores começaram a abordar o potencial de utilizar esses métodos avaliativos e a partir deles relacionar o esporte e sua relação com o estresse em diferentes contextos esportivos:
Com atletas de modalidade individual vs. coletiva (RODRIGUES, 2018) vencedores vs. derrotados (RIBEIRO JUNIOR, 2012), a percepção quanto ao nível dos adversários (ARRUDA et al., 2017), em modalidades específicas, como a dança (SILVA et al., 2016), árbitros (COSTA et al., 2010) e com os treinadores (COSTA et al., 2012). Desse ponto, estudos começaram a apontar para os malefícios do estresse agudo ou crônico no desempenho esportivo. E dentre as habilidades que poderiam ser treinadas e desenvolvidas estão as estratégias para superar os momentos estressores, as estratégias de Coping.
As estratégias de Coping representam a forma como os atletas examinam, desenvolvem respostas e se comportam perante essas situações estressoras. Essa habilidade pode ser desenvolvida durante treinamentos, situações de jogo e conversas com treinadores e psicólogos. Quanto mais jovem o atleta for apresentado esse tipo de treinamento mental, maior será o efeito a longo prazo. De modo geral, as estratégias de Coping atuam no enfrentamento e proteção do atleta contra os sintomas do estresse.
Se interessou sobre o assunto? O GEPEEX já tem um texto pronto que relaciona o Burnout e o Coping (clique aqui)
É importante destacar que treinadores podem contar com suportes profissionais caso estejam com dificuldades para contornar as cargas estressoras nos. O psicólogo do esporte, como parte da equipe multidisciplinar, é um profissional que pode intervir também na mediação dos conflitos existentes entre treinadores e atletas, auxiliando no estabelecimento de metas, preparação para momentos pré competição como parte da intervenção psicológica nos diferentes espaços, faixas etárias, modalidades, na iniciação esportiva, prática recreativa até o mais alto nível competitivo.
O GEPEEX realiza várias pesquisas sobre o tema. A seguir, são citados alguns artigos provenientes destas pesquisas. Veja o que publicamos até agora:
DO NASCIMENTO JÚNIOR, José Roberto Andrade et al. Estresse pré-competitivo e experiência esportiva em adolescentes de Petrolina-PE. Psicologia Revista, v. 27, p. 615-631, 2018.
OLIVEIRA, D.V. ; SILVA, D. ; ANTUNES, M.D. ; NASCIMENTO JUNIOR, J.R.A. ; BERTOLINI, S.M.M.G. ; CAVAGLIERI, C.R. . Relação do estresse percebido com a qualidade de vida de idosos fisicamente ativos. REVISTA INSPIRAR, v. 19, p. 1-17, 2019
SILVA, F. F. ; BELLI JUNIOR, O. ; NASCIMENTO JUNIOR, J.R.A. ; CARVALHO, C. L. ; SILVEIRA, W. C. B. ; ARAUJO, P. F. . Correlação entre microlesão e muscular e estresse entre atletas de handebol em cadeira de rodas. CONEXÕES (UNICAMP), v. 17, p. e019023, 2019.
Referências:
ARRUDA, Ademir FS et al. Salivary steroid response and competitive anxiety in elite basketball players: Effect of opponent level. Physiology & behavior, v. 177, p. 291-296, 2017.
COSTA, L.O.P.; SAMULSKI, D.M. Processo de Validação do Questionário de Estresse e Recuperação para Atletas (RESTQ-Sport) na Língua Portuguesa. R. bras. Ci e Mov. 2005; 13(1): 79-86.
COSTA, Varley Teoldo da et al. Análise estresse psíquico em árbitros de futebol. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, v. 3, n. 2, p. 2-16, 2010.
COSTA, Varley Teoldo da et al. Validação das propriedades psicométricas do RESTQ-Coach na versão brasileira. Motriz: Revista de Educação Física, v. 18, n. 2, p. 218-232, 2012.
Hill AP, Hall HK, Appleton PR. Perfectionism and athlete burnout in junior elite athletes: the mediating role of coping tendencies. Anxiety Stress Coping. 2010;23(4):415-30.
KRONENBERG, Henry. Williams tratado de endocrinologia. Elsevier Health Sciences, 2010.
MOLINA, Patricia E. Fisiologia Endócrina-4. AMGH Editora, 2014.
PIRES, Daniel Alvarez et al. Burnout e Coping em Atletas de Voleibol: uma análise longitudinal. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 22, n. 4, p. 277-281, 2016.
RIBEIRO JUNIOR, Evaldo José Ferreira. Estresse psicofisiológico em atletas de tênis infanto juvenil masculino. 2012.
RODRIGUES, Rafael Nogueira. Síndrome de Burnout em jovens atletas: um estudo com modalidades esportivas individuais e coletivas na fase pré-competitiva. 2018.
SILVA, Andressa Melina Becker da et al. Adaptação e evidências de validade do Recovery-Stress Questionnaire for Athletes (RESTQ-Sport) para dançarinos adolescentes (RESTQ-Dance). Estudos de Psicologia (Natal), v. 21, n. 3, p. 249-260, 2016.
VIEIRA, Lenamar Fiorese et al. Análise da síndrome de" burnout" e das estratégias de" coping" em atletas brasileiros de vôlei de praia. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 27, n. 2, p. 269-276, 2013.
Recomendações:
BALBIM, Guilherme Moraes; NASCIMENTO JUNIOR, José Roberto Andrade do; VIEIRA, Lenamar Fiorese. Análise do nível de coesão de grupo e do estresse psicológico pré-competitivo de atletas adultos de voleibol. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 14, n. 6, p. 704-712, 2012.
BALEN, Ivete et al. Estresse Psicofisiológico em mulheres atletas tenistas de elite. Revista de psicología del deporte, v. 27, n. 4, p. 0109-114, 2018.
NASCIMENTO JUNIOR, José Roberto Andrade do; CAPELARI, Julia Bellini; VIEIRA, Lenamar Fiorese. Impacto da prática de atividade física no estresse percebido e na satisfação de vida de idosos. Revista da Educação Física/UEM, v. 23, n. 4, p. 647-654, 2012.
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*Nathan Leonardo Gomes Costa. Graduando em Educação Física pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e integrante do Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte e do Exercício (GEPEEX).
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